TC 24,4 C (Salt.: sem IV)
Quarta-Feira da semana 24 do Tempo Comum.
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Todo este assunto, desde o início, encontra-se
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DEUS é grande, grandes são as Suas obras! Não vos enganeis a vós mesmos, porque não podeis dar sequer um passo sem DEUS, Meus filhos! (RAINHA DA PAZ)
Há quem diga que não precisa de DEUS, só precisa do que de DEUS recebe, a começar pela existência, não é curioso? E há quem queira sugerir que a demonstração da existência de DEUS equivale a demonstrar a inexistência de fadas: (até) parece, mas não é. As fadas podem existir ou não que não muda nada, já não se pode dizer isso de DEUS... Demonstra-se a existência de DEUS pelos factos. E das fadas, "pelo quê"?
Nunca, da Terra, se viu a outra face da Lua, mas sabemos que existe. Esta verdade é tão intuitiva, diz a inteligência, que nem precisa de recorrer à ciência para compreender imediatamente que existe a outra face da Lua. Usando apenas o raciocínio e cálculo matemático, conseguiu-se descobrir um planeta que depois se confirmou pelo telescópio. A razão humana é capaz dessas coisas. E também de inventar fadas.
O ateísmo militante costuma dizer que ainda não se provou se as fadas existem ou não (não se provou a sua inexistência, dizem), assim como, dizem eles, ainda não se provou a existência de DEUS. Deveriam ir ao dicionário ver o que significa teimosia, porque a existência de DEUS já foi provada (não precisa da aprovação no Congresso Nacional). Sim, já foi feita a demonstração!... E logo, por azar, foi no século XIII... Só não sei se foi no dia 13 e, para agravar o azar, era uma sexta-feira, e ainda por cima o mês de agosto, tudo junto! (Seria demais!) E, novamente, o que DEUS têm a ver com fadas? Zero! Nada a ver. Se as fadas existissem (não só idealmente, mas realmente), não passariam de seres contingentes, como são todas as criaturas, e pelo facto de existirem, a razão humana não consegue dar a explicação (racional), senão admitindo a existência (real) do SER NECESSÁRIO a quem chamamos de DEUS, de modo que nada a ver com fadas, a questão da existência de DEUS.
Uma coisa é querer saber se fadas existem. Existem? Não existem? Não muda nada, em relação as questões essenciais do ser humano. Já não é assim com relação a DEUS... Assim, eu convido os bugalhos a se sentarem no banco da direita e os bugalhos a se sentarem no banco da esquerda, ou vice-versa...
Alguém já viu fadas? Não, mas nem os efeitos da sua existência podemos apreender. Por isso, os filósofos dizem que existem apenas no pensamento, como idéia, sem existência real (nem actual, nem possível), apenas existência ideal. Mas é importante saber disso?
A ciência - dom de DEUS (sem DEUS, não existe nada, nem ciência) -, também não pode ver, por exemplo, a vida (ou principio vital das plantas e animais), mas, ao contrário de fadas, pode ver a manifestação da vida (os fenómenos), que são os efeitos dessas coisas invisíveis aos nossos sentidos: o nómeno e princípio delas. Não vê a causa, mas a conhece pelos efeitos apreendidos pelos sentidos e abstraídos pela inteligência.
Assim, a ciência, pelos efeitos que observa, usando o raciocínio indutivo, chega (eleva-se) às causas. É precisamente assim, por esse mesmo método, que se chegou à demonstração da existência de DEUS, o mesmo que usa a ciência. Assim como a ciência empírica usa o princípio de causalidade, assim o mesmo princípio foi usado para demonstrar a existência de DEUS. Para se concluir que, se DEUS não existe, fica tudo sem explicação. E se as fadas não existirem, fica também tudo sem explicação?
Por esse método usado pelas ciências empíricas e que foi usado pela Metafísica para provar que DEUS existe, podemos também usá-lo para provar que as fadas não existem ou existem? E não seria perda de tempo? Assim, misturar fadas com a questão fundamental da humanidade, que é DEUS, é dar um pontapé no traseiro da razão humana.
É verdade que os nossos sentidos não podem apreender DEUS, tal, como na biologia, os nossos sentidos não podem apreender a vida (Igualmente! A inteligência humana, nesta vida, está mais limitada que a angélica, porque a condição para ela actuar é o cérebro; depende dum órgão humano do corpo, material, com todas as limitações da matéria). Mas pode a biologia, observando os efeitos causados pela vida, concluir leis gerais e também concluir que a vida, embora não apreendida pelos sentidos, é uma realidade, existe (e está demonstrado pelos efeitos (que a vida existe), embora o microscópio só possa "ver" os efeitos dessa vida). Igualmente, embora analogicamente, relativo a DEUS, observando os efeitos, se conclui que DEUS existe.
Quando se vê uma pintura (efeito), sabemos que houve um pintor (causa), e se dissermos que veio do acaso, diz logo o Pinóquio: «Que grande verdade!» (Só que ele é um grande mentiroso...) Olhando a CRIAÇÃO, houve um AUTOR, óbvio! Se DEUS (o pintor) não existe, então não existe nada (não existe a pintura). Se não existe o pintor, não pode existir a pintura, parece óbvio!
Vou começar a mostrar como se fez a demonstração da existência de DEUS levando em conta apenas a razão humana, mais nada: nem a FÉ, nem outras fés em ideologias ou em homens famosos, nem o condicionamento, nem o preconceito, nem o sentimento, nem o sentimentalismo, mas apenas a razão será levada em conta.
Não precisamos de recorrer à FÉ
- por exemplo, em JESUS CRISTO, que é único na história da humanidade (passada, presente e futura), que nunca ninguém falou como ELE, não veio, como outros "salvadores", prometer uma bela (miserável e vazia, e sem esperança) vida terrena, além de finita, mas veio trazer a única e verdadeira novidade com muitas novidades, entre elas, DEUS é PAI; amar e perdoar os inimigos; não se pode - impossível! - amar a DEUS, se odiamos o próximo. Nenhum outro deus ou deuses ensinaram coisa que se assemelhe a isso e muito mais; um deus (DEUS!) que não pede sacrifícios humanos, até os abomina, mas que assumiu a nossa humanidade e sacrificou-SE, na humanidade assumida, por nós; que não veio para reinar como um napoleão, mas para servir. Como fazem mal ao mundo os napoleões, na democracia! Os que crêem n'ELE, em JESUS, não matam, mas podem são mortos por crerem n'ELE. JESUS é um caso único na história e seria o irracional do irracional supor que nunca existiu. Que descaramento do sr. Irracional! Todos oferecem um reino terrestre, fantasiado por algum sociólogo positivista, após votação secreta, um paraíso que mais se parece um inferno - pelo menos, rapidamente se chega aí -, e ELE oferece o REINO DE DEUS, a única novidade do mundo -,
no que vamos mostrar aqui, mas apenas o facto que, ao contrário de fadas, nada se explica, se admitirmos que DEUS não existe. Caímos no absurdo dos absurdos. Enquanto que as fadas poderem existir ou não, não tem (a mínima) importância saber, sobre DEUS, deixamos o que é infantil e entramos em coisa séria, a mais séria de todas as questões.
Senão vejamos... Supondo que não foi demonstrada a existência de DEUS, há ainda a dúvida, a existência de DEUS é apenas uma hipótese - vamos supor isso -, como deve viver a minha vida em função desta dúvida?
Deve a minha vida viver como se estivesse provado que DEUS não existe, ou deve a minha vida viver como se estivesse provado que DEUS existe? Qual das atitudes é racional (de bom senso)?
Não preciso de responder. O leitor sabe muito bem da resposta.
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O PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL
1ª Via
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TESE: Pela existência real dos movimentos ou mudanças observadas em todos os seres do universo demonstra-se a existência real de DEUS, como PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL.
NOTA: demonstra-se a existência real. As fadas até existem, como ensina a Filosofia, mas só idealmente, no pensamento humano. Não possuem existência real.
Sobre movimento:
No sentido filosófico (metafísico), movimento é mais amplo do que se costuma entender por movimento. Pensar, por exemplo, é mover-se, na realidade espiritual (assim se movem os anjos...). Em Filosofia, movimento significa qualquer mudança ou modificação dos seres, o «devenir», o «tornar-se», o «vir-a-ser», isto é, uma passagem de um estado para outro; passagem em que um ser vai adquirindo uma realidade, uma modalidade ou determinação, que antes podia ter, mas de facto não tinha ainda:
Antes do movimento, o ser estava em potência, isto é, com capacidade para receber esta realidade (senão, nunca a receberia (uma pedra nunca falará)); depois, está em acto de possuí-la.
Mudança é, pois, qualquer passagem da potência para o acto.
Define Aristóteles:
O movimento, a mudança é o acto de um ser que está em potência, enquanto está em potência.
- Donde
a) Para se dar uma mudança é necessário que haja algo que muda, que vem-a-ser. Impossível um vôo sem alguém que vôe, uma visão sem alguém que veja, um movimento sem um móvel. «O puro nada não pode mudar» (São Tomás) Daí, o puro devenir é um absurdo.
b) A mudança, o vir-a-ser, não é uma pura sucessão de dois estados, mas a passagem que um ser faz de um estado para outro. Não é um ser e depois outro ser, mas o mesmo ser que vai de um estado para outro. Há, pois, uma realidade que permanece sob os dois estados... Nós mesmos, estamos em constante mudança (ou movimento), mas continuamos a ser nós e não o sr. Fulano ou a sra. Sicrano, após a mudança.
c) O movimento é algo de contínuo com uma verdadeira unidade. Os estados transitórios e sucessivos, que a mente pode distinguir enquanto se está dando a mudança, pertence à unidade do movimento não como partes discretas, distintas (independentes), mas enquanto intimamente unidos e dependentes entre si.
d) A mudança pode ser quantitativa ou qualitativa, substancial ou acidental.
e) No argumento, as mudanças são consideradas não apenas no plano puramente físico ou empírico de efeitos determinados em relação às suas causas próximas, mas no plano metafísico e ontológico, isto é, na sua íntima essência, enquanto são passagens de potências passivas para novas perfeições, indagando a razão última e suficiente de tais passagens.
FIM DA NOTA (Que abreviei)
ENUNCIADO DO ARGUMENTO:
A primeira via e a mais manifesta é aquela que parte do movimento. Com efeito, é certo, e consta pelos sentidos, que algumas coisas mudam neste mundo.
Ora, tudo o que muda (ou se move), é movido por outro... Se, pois, o ser do qual deriva a mudança, por sua vez também muda, é necessário que seja também ele movido por outro, e este por outro. Mas aqui não se pode proceder ao infinito...
Logo, é necessário chegar a um primeiro movente que não seja movido: é a ESTE que todos reconhecem por DEUS.
(Santo Tomás, Summa Theol. I, q. 2, a. 3)
DEMONSTRAÇÃO:
Em todos os seres do universo constatamos movimentos e mudanças (I): consta pela experiência de cada dia, em nós e fora de nós.
Ora:
1) Tudo o que se move, é movido por outro (II-A): porque mover-se (mudar) é receber uma perfeição que não se tinha; mover é dar, comunicar esta perfeição; mas, para poder dar, é preciso ter; para poder receber é preciso não ter; logo, como é impossível que o mesmo ser juntamente tenha e não tenha uma determinada perfeição, é impossível que o ser movido (que se move, que muda) não seja distinto do ser que o move;
2) E não é possível proceder ao infinito, mas fora da série dos moventes-movidos - quer seja (a série) finita ou infinita, quer seja eterna ou temporária - se requer um primeiro movente não movido por outro, mas imóvel (II-B): porque os moventes-movidos não movem senão enquanto recebem de outro o movimento; donde não têm em si mesmos a fonte do movimento, mas somente o transmitem; logo, uma série de moventes-movidos, seja pequena, grande ou infinita, quer o movimento tenha começado, quer dure desde sempre, não contém em si mesma a razão suficiente do movimento.
Logo, existe um primeiro movente, não movido por outro, mas imóvel.
Mas o primeiro movente imóvel só pode ser o SER que chamamos DEUS (III): porque o movente imóvel é necessariamente acto puro, eterno, incriado, ser subsistente, infinitamente perfeito, imaterial, espiritual, inteligente, presente em toda a parte, único e transcendente: que são os atributos que todos reconhecem no ser chamado DEUS.
Logo, existe DEUS, PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL.
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EXPLICANDO I (Em todos os seres do universo constatamos movimentos e mudanças (I): consta pela experiência de cada dia, em nós e fora de nós)
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(A explicação completa, muito mais longa que a que coloco aqui, está no livro...)
A existência real de movimentos ou mudanças nos seres do universo é um facto evidente. (...) A mutabilidade dos seres é a primeira e a mais iniludível (imune a ilusões, isto é, enganos da inteligência) constatação que a nossa experiência externa e interna nos apresenta no universo.
O movimento é um facto real. Não é apenas algo que exista só no pensamento, mas também na realidade.
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EXPLICANDO II - A e B
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II - A (Tudo o que se move, é movido por outro)
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O que move é distinto - outro ser - do que é movido. Uma parede pode receber a cor verde, mas para tornar-se verde, precisa de outro ser, um caiador... que não é a parede, mas um homem ou mulher (a causa, a razão da parede ter a cor verde).
Este princípio não nega que, quem muda (a parede) possa influir de algum modo na mudança que nele se dá: seria negar-lhe toda a actividade própria, seria negar a sua natureza que é princípio interno de operação. Muito menos nega aos viventes as suas operações imanentes, pelas quais ficam aperfeiçoados e «movem-se a si mesmos».
O que o princípio afirma é ser impossível encontrar no ser que muda a causa total, a razão suficiente adequada da sua mudança: é necessário acrescentar o auxílio de outro ser - já em acto (já tendo a perfeição que vai comunicar) -, do qual quem muda deve receber a actualização da sua potência, sem o que não pode exercer o seu acto. É isso que o princípio II - A afirma.
A parede não pode pintar-se de verde. Pode tornar-se de cor verde, tem potencialidade de receber uma cor, por exemplo, verde, mas precisa de outro ser, um homem, que a vai pintar de verde (pincel, tinta verde, etc). Outras alterações poderão ocorrer, até dependendo da qualidade da tinta, do material da parede, etc, mas a razão de passar da cor branca para a verde está fora de si, num fluxo externo. Suponho que ninguém tem dúvidas quanto a isso.
Este fluxo externo é requerido para explicar não só a origem da mudança no passado, mas também a dependência actual de qualquer mudança real... Enquanto o caiador não resolver mudar a cor da tinta, a parede se manterá com a cor branca. A causa explica mudança e explica também a não mudança.
- A experiência confirma isto. O Padre Pedro Cerruti S. J. alonga-se no livro em muitos exemplos que confirmam a matéria da premissa II - A. Só para citar um exemplo do livro: na planta, o seu germinar, a sua alimentação, o seu crescimento, a produção da semente e dos frutos, tudo requer o auxílio dos seres exteriores: a acção do Sol, da água, dos elementos minerais da terra...
- As Ciências confirmam: nunca se admite que uma modificação se opera de um modo absolutamente espontâneo, que uma coisa possível se torna real sem alguma excitação externa.
- A razão humana demonstra. Quem muda, antes de mudar ou era apenas potência passiva (o mármore é passivo de receber a forma de estátua), ou era também potência activa (o animal para caminhar, a inteligência para conhecer, a vontade para querer). Em ambos os casos há sempre, na mudança, uma actualidade, uma entidade real produzida (a forma da estátua, a entidade da operação de caminhar, conhecer, querer), que antes não existia e agora existe; a mudança consistiu precisamente na introdução desta entidade no ser que mudou.
Qual a razão suficiente da existência desta nova realidade? A causa total e final está no ser que é movido e que adquire? (No mármore, no animal, na inteligência, na vontade?) Claro que não!
Quem precisa de mudar, precisa de algo que não possuia. Se já possuísse em si, não precisaria de mudar. O mármore pode receber a forma de estátua, tem essa potência (no caso, passiva), mas não possui tal forma em acto, enquanto não houver a mudança, cuja causa ou causas serão externas ao mármore: escultor, martelo, etc. Ninguém dá o que não tem, só o evolucionismo materialista acredita nisso.
Que um ser possua em si mesmo a razão suficiente do que ele é - assim DEUS, tudo está n'ELE (em grau infinitamente perfeito) -, é compreensível, mas que um ser possua em si mesmo o que é e o que não é, de modo que, não sendo, pode passar a ser sem precisar doutro ser para receber o que não tem (em si), é absurdo. Isto ofende o princípio da identidade: é ou não é? Seria supor que o zero se pode tornar um sem precisar da adição: 0 = 1.
Assim, óbvio, a mudança requer necessariamente, como afirma II - A, um ser distinto de quem muda.
Quem pode ser este outro ser? A resposta está em II - B
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II - B (Não é possível proceder ao infinito, mas fora da série dos moventes-movidos - quer seja (a série) finita ou infinita, quer seja eterna ou temporária - se requer um primeiro movente não movido por outro, mas imóvel)
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Se pensarmos numa série de moventes-movidos infinita, sem precisar de sair dela, isso dá a razão suficiente? E, assim, a explicação estaria só nessa série, sem precisar de recorrer a outro ser fora da série como explicação?
A é movido por B, B por C, C por D, ..., ao infinito.
Como se viu em II - A, o que não tem não pode dar o que tem; podendo receber (potência), precisará de receber doutro ser (em acto), ou negar-se-ia o princípio da identidade. Assim, numa série movente-movidos não pode..., é impossível estar a explicação total para as mudanças nela.
Quem dirá que, para dispensar a locomotiva, basta aumentar o número de carruagens da composição? Até uma criança diria que, sem a locomotiva, o combóio não anda.
Mas se a série fosse infinita, não ficaria tudo explicado? Nesta, haveria sempre um movente-movido superior a quem recorrer... Assim, imaginando infinitas carruagens, já podemos mandar a locomotiva para a reforma?
Sempre haverá um movente a quem recorrer, mas movente insuficiente, porque também ele é movido.
Só com espelhos que reflectem não se explica a imagem neles reflectida; só com uma série de zeros, mesmo se infinita, nunca se obtém uma unidade; quem, para aliviar a miséria de um pobre, trouxesse outro pobre, e mais outro, e mais outro até ao infinito, só teria com isso miséria infinita, não, porém, alguém capaz de aliviá-la.
Mas, diz a oposição (à tese - nada a ver com a política...): e se essas mudanças processassem desde toda a eternidade?
Então, seria desde toda a eternidade que elas exigiam uma razão suficiente: não é apenas o ser que começa a existir (ser contingente, podia não existir) que deve ter uma razão suficiente para, podendo não existir, estar a existir, mas em tudo que existe, existindo, tem a razão da sua existência noutro ser distinto do que existe. Assim, desde toda a eternidade seriam os seres contingentes incapazes de explicar as mudanças.
Continuamos, pois, mesmo que seja desde toda a eternidade, a exigir, para explicar o movimento e mudanças, um primeiro movente não condicionado. Mesmo que uma usina eléctrica funcionasse eternamente, não poderia dispensar o dínamo nem a água. O tempo é uma mera medida, não é uma causa ou fonte de actividade.
Quer uns binóculos? O universo inteiro move-se, muda, evolui. Qual é, então, a causa adequada? Não é resolver o problema dizer que se move e muda desde ontem ou desde toda a eternidade. Isto apenas é observação, o que observamos - nem precisa de chamar Sherlocks Holmes -, não é uma explicação.
Assim, a explicação tem que estar fora (FORA) desse mesmo universo, mesmo que o universo seja infinito e eterno. Diz a sra. Razão que tem que haver, necessariamente, um MOVENTE de outra ordem (está FORA da série), que seja por SI Mesmo a FONTE do movimento, mas MOVENTE IMÓVEL.
Não significa um ser inerte, mas que não precisa de mudar porque já está tudo nele de perfeição.
As criaturas (sempre contingentes) precisam de mudar ou mover-se porque não têm tudo nelas de perfeição (que podem receber potencialmente). Mudar é buscar algo que ainda não possuia, é procurar "progredir". Se um ser possui em si mesmo todas as perfeições (que pode receber e já recebeu), nada mais pode adquirir, não muda. Adiantando, em DEUS, não só está todas as perfeições (ou bens), mas essas perfeições (ou bens) em grau infinito: é o SUMO BEM.
Nenhum dos seres deste universo pode, evidentemente, constituir este MOVENTE IMÓVEL, pois tudo está em permanente movimento (buscando uma "vida melhor") (que só se encontra plenamente em DEUS). Sem este PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL, fonte independente e primeira da existência de todas as mudanças, a sra Razão fica só a coçar a cabeça. Não há outra explicação para o movimento.
Mas ainda falta algo: este PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL é único? É distinto do próprio universo (transcendente)? É realmente o SER que chamamos DEUS?
Falta pois explicar III, que se repete abaixo:
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III: O PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL é o SER a QUEM chamamos DEUS
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Deve ser acto, porque, sendo movente, deve ter em acto a perfeição que ele comunica; deve ser puro (DEUS é ACTO PURO), sem mistura de potencialidade, porque sendo MOVENTE IMÓVEL e IMUTÁVEL - já possui todas as perfeições (e em grau infinito) -, não há possibilidade de vir-a-ser.
Este ACTO PURO enquanto agente (enquanto movente), também o é enquanto existente, porque IMÓVEL: contém em SI Mesmo a razão suficiente adequada e total da Sua actividade. DEUS, o MOTOR IMÓVEL, é ACTO PURO enquanto existente, isto é, é a EXISTÊNCIA mesma subsistente.
Só é independente na sua actividade quem é (em acto) a sua actividade,
e só é a sua actividade quem é (em acto) a sua existência;
só é independente na comunicação de uma perfeição quem produz a existência dessa perfeição,
e só pode ter por efeito próprio fazer existir quem é a sua existência (em acto).
Logo, o PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL é a Sua EXISTÊNCIA.
Com tudo isso, embora por analogia, a razão humana pode tirar conclusões sobre QUEM é DEUS. NOSSA SENHORA tem convidado, não a conhecer QUEM é DEUS segundo a nossa razão, mas no encontro com JESUS CRISTO. Todos estamos convidados a esse ENCONTRO, também os ateus, e a ampliar esse conhecimento de corpo e alma com DEUS na conversão diária, até chegar à plenitude no fim desta passagem, que é esta vida. Mas, limitando só a razão, da demonstração da existência de DEUS, chega-se ao conhecimento de QUEM é DEUS (PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL)
1. EXISTÊNCIA mesma subsistente, o SER NECESSÁRIO: todos os outros, as criaturas, são contingentes, podiam não existir; se existem, têm a causa noutro ser e, indo à causa primeira (e também última do homem), o SER SUBSISTENTE.
2. INCRIADO e ETERNO: senão seria movido passando do não existir ao existir, nem seria a própria EXISTÊNCIA SUBSISTENTE. A duração da Sua existência, sem princípio, sem sucessão e sem fim, não tem partes, mas é toda junta (tota simul), que é o conceito de eternidade.
3. INFINITAMENTE PERFEITO: sendo a EXISTÊNCIA mesma subsistente, é tudo o que pode existir, isto é, todos os modos de ser, todas as perfeições.
4. IMATERIAL e INCORPÓREO: matéria é potência, perfeição que pode receber, mas ainda não recebeu, todo o corpo é composto de partes, inclui a potencialidade, contradiz o que se viu sobre DEUS.
5. ESPIRITUAL: existe e age independentemente da matéria.
6. INTELIGENTE: porque é espiritual e porque move inteligências (há-de notar que são conclusões tipo corolário que se tiram da tese (e de outras teses que não vimos aqui como ser espiritual implicar ser inteligente)).
7. PRESENTE EM TODA A PARTE: porque move todos os seres, e o agente deve estar onde age, tanto mais que, no MOVENTE IMÓVEL, a acção é a sua essência. Se o pintor não está onde está a
parede de cor branca, não poderá pintá-la de cor
verde.
8. ÚNICO, não existem deuses: se houvesse mais de um acto puro e infinito, haveria diferenciação, ou não existiriam vários, mas só um. Mas, havendo diferenciação, dá para brincar: quem é mais DEUS e menos DEUS (ou, como dizem certas crenças, um DEUS maior e um DEUS menor?)? É consequência natural da tese que DEUS só pode ser um só (se houvesse um deus menor, não seria DEUS, mas criatura).
9. TRANSCENDENTE, não é um deus panteísta: inconfundível com o universo, porque, sendo EXISTÊNCIA SUBSISTENTE fora das sucessões do tempo e das transformações da matéria, ELE SE distingue pela Sua infinita e imutável perfeição.
Tudo isto são atributos que todos - não estando a mente afectada -, ao ouvi-los de alguém, associam imediatamente ao SER a QUEM chamamos de DEUS.
Logo, o PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL é único, distinto do universo e coincide com o SER a QUEM chamamos de DEUS.
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CONCLUSÃO
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Partindo das mudanças reais observadas no universo - a primeira VIA -, chegámos, pela luz natural da razão, de modo científico, à necessidade absoluta da existência real (não, ideal, mas real) de DEUS, única fonte e razão adequada - e só DEUS - dessas mudanças.
Há outras ESTRADAS, como veremos, são CINCO as VIAS de São Tomás de Aquino. O Padre Pedro Cerruti S. J. vai fazer muitas observações que ajudam a compreender melhor o assunto, que é muito extenso, que não vou colocar aqui. Comprando o livro - são três volumes -, comprará um tesouro. Menciono-o de novo: A Caminho da Verdade Suprema, Padre Pedro Cerruti S. J., Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC).
A demonstração da 1ª VIA, muito mais extensa no livro, foi feita. Vimos que, se a nossa razão não estiver afectada, se ela estiver sã, compreenderemos que a via nos leva necessariamente à existência de DEUS. Observar que o universo inteiro muda e sem DEUS equivale a dar um pontapé no traseiro da razão humana. (Isso é violência...)
NOSSA SENHORA consegue dizer de modo muito mais simples QUEM é DEUS:
DEUS é grande, grandes são as Suas obras! Não vos enganeis a vós mesmos, porque não podeis dar sequer um passo sem DEUS, Meus filhos! (RAINHA DA PAZ)
Seguem-se, como é nas teses (sérias) da Filosofia, objecções (da oposição, mas nada a ver com política). Não vou falar delas hoje, mas na próxima vez, se DEUS quiser. (Sem promessas, pode não ser assim, só se DEUS quiser!) Também serei muito mais resumido nas outras vias do que fui nesta, ainda assim, cortando partes gordas do livro. Até amanhã, se DEUS quiser!