TC 23,6 C (Salt.: sem III)
Sexta-Feira da semana 23 do Tempo Comum.
São João Crisóstomo,Bispo e doutor da Igreja, MO.
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Num dia de sábado, o SENHOR caminhava pelos campos e Seus discípulos, andando, começaram a colher espigas. Os fariseus observaram-LHE: «Vede! Por que fazem eles no sábado o que não é permitido?» JESUS respondeu-lhes: «Nunca lestes o que fez David, quando se achou em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? Ele entrou na CASA DE DEUS, sendo Abiatar príncipe dos sacerdotes, e comeu os pães da proposição, dos quais só aos sacerdotes era permitido comer, e os deu aos seus companheiros.» E dizia-lhes: «O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado; e, para dizer tudo, o FILHO DO HOMEM é senhor também do sábado.» (Marcos II,23-28)
«O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado; e, para dizer tudo, o FILHO DO HOMEM é senhor também do sábado.»
Havia fariseus, no tempo de JESUS, na maior parte, parece-me a mim, legalistas (prestam culto à lei, o que é uma idolatria): uma cidade até poderia estar em chamas, mas ao sábado nada se poderia fazer porque havia a lei do repouso sabático. O exemplo em exagero é só por ironia.
Era essa a vontade de DEUS? Que os discípulos de JESUS passassem fome por ser sábado? Claro que não! DEUS é misericórdia (e nem era uma lei de DEUS...).
JESUS disse que não veio revogar a LEI, mas levá-l'A à perfeição. Mesmo essa lei, do repouso sabático, levando em conta o tempo histórico e intenção com que Moisés a ditou ao povo - o louvor a DEUS, que vem do amor a DEUS -, era boa e devia ser cumprida, enquanto não violasse a LEI MAIOR, que é a LEI DO AMOR.
«O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado; e, para dizer tudo, o FILHO DO HOMEM é senhor também do sábado.»
Os discípulos de JESUS estavam a passar fome: a lei não vale mais, nessa situação. O AMOR DE DEUS prefere a misericórdia (pode quebrar a lei) ao sacrifício (passem fome!), dirá JESUS.
A lei humana pode ser mudada, pois é imperfeita, quando não é erro. Já a LEI DE DEUS vale sempre, por exemplo, «não matarás». Nunca pode ser quebrada sem pecar. Quando é lei dos homens, estas podem ser quebradas, mudadas ou emendadas.
Na realidade temporal das leis civis existe um ditado:
Ninguém está acima da lei.
O que isso quer significar pode parecer ser verdadeiro, no sentido em que a lei, quando se aplica a alguém - nem sempre uma lei se aplica a todos -, não olha condição social, dinheiro, fama, poder, etc. É para todos cumprirem. É o princípio da igualdade, que não vem da revolução francesa, de geito nenhum, mas da igualdade na dignidade do cristianismo; antes do cristianismo, no mundo pagão, nem conheciam esse valor (cristão) da igualdade.
Parece verdadeiro esse ditado, mas não é: se a lei fôr iníqua, continua a valer o ninguém está acima da lei? Claro que não!
A LEI DE DEUS está acima de todas as leis. Uma lei civil imoral não é para se cumprir.
O que é que me obriga, então, livre e conscientemente, a cumprir uma lei?
O que me obriga a cumprir uma lei civil é ninguém estar acima da lei? De geito nenhum nem algum! É DEUS que me obriga a cumpri-la e eu com muito gosto obedeço (a DEUS).
Agora as coisas da lei já estão muito bem definidas: as leis aprovadas pelo príncipe deste mundo não são para se cumprir, vão contra a LEI DE DEUS.
Se somos discípulos de CRISTO, a razão de, livre e conscientemente, fazer-nos cumprir uma lei civil, quando se aplica a nós, é DEUS. E semelhantemente a essa razão, o meu amor do próximo.
Se fosse porque ninguém está acima da lei, a razão - e sabemos que no mundo real isso é só teoria... -, poderia haver a interpretação de que a lei não pode se quebrada, se existir uma lei maior.
Ou pior, o "argumento" de que tenho que cumprir uma lei imoral porque ninguém está acima da lei (a lei imoral é para todos).
De geito nenhum e muito menos neste caso! Não obedeço ao príncipe deste mundo, mas a DEUS.
A razão para, livre e conscientemente, cumprir-se uma lei civil é DEUS somente, e deveria ser assim mesmo para todo o ser humano, cuja razão é recta, escutando a voz da sua consciência, porque, para o ser humano, mesmo que este não saiba - a doença, o orgulho, a cegueira do pecado, o culto à mentira, etc, cega a razão e o coração -, não há nada de mais importante do que DEUS, razão porque, o totalitarismo dos tiranos nunca conseguiu, nem conseguirá jamais, separar DEUS dos homens. A necessidade de DEUS é da natureza do homem e não há necessidade maior do que esta, o SUMO BEM, DEUS, o fim último do homem.
Disse-lhes JESUS: «Pergunto-vos se no sábado é permitido fazer o bem ou o mal; salvar a vida, ou deixá-la perecer.» (Lucas VI,9)
Deve-se cumprir uma lei que não deixaria fazer o bem? A lei está acima do bem? Pode-se fazer o mal, deixar uma vida perecer, por causa duma lei?
Que asneira, se levar em conta o ninguém estar acima da lei. Mas se eu cumpro a lei por causa de DEUS, sabe a minha consciência que a lei que impeça de fazer um bem é para se quebrar; só para ser cumprida quando não impedir de se fazer o bem.
Se estou proibido de ir para a água duma praia, por estar com sinal vermelho, devo cumprir tal lei. É porque ninguém está acima da lei? Nada disso! É por causa de DEUS e, não cumprindo, pecaria. Mas se alguém está a afogar-se, tal lei já não vale, o que vale é socorrer quem está a afogar-se.
Um pai desempregado que visse os filhos e a esposa a morrerem de fome e que assaltasse um super-mercado para obter o alimento para a família - a razão é só essa - não cometeria nem o mais leve pecado, isto é, na LEI DE DEUS, e esta é a que vale, a LEI MAIOR, exerceu o seu legítimo direito aos bens que DEUS pôs, não, ao dispôr de alguns, mas de todos. Ele não cometeu o pecado do furto.
Nada nos pertence, tudo é dom de DEUS, mas, na Sua Justiça, o que DEUS dá, em criação contínua, é para todos. Alguém violou o legítimo direito daquele pai e daquela família, tirando-lhes o que legitimamente lhes pertence. Ele, nessa situação, não furtou.
Aceito comentários... Até amanhã, se DEUS quiser!
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