quinta-feira, 16 de outubro de 2014

04 A liberdade não tem nada contra a felicidade

TC 28,5 A (Salt.: sem IV)
Quinta-Feira da semana 28 do Tempo Comum.
(Dia de) Santa Hedviges, religiosa, mf.
(Dia de) Santa Margarida Maria Alacoque, virgem, mf.

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Ouvindo coisas absurdas, eu já havia escrito que a liberdade não tem nada contra ser feliz; a liberdade, dom de DEUS, só atingirá a plenitude na visão beatífica de DEUS. Quando uma criança, buscando a segurança, dá as mãos ao pai, não perdeu a liberdade porque é atraída para a segurança do pai, pelo contrário: está a fazer aquilo que ela quer, segurança. Dar as mãos ao pecado é que é perder a liberdade.

Na segunda leitura de hoje, na Liturgia das Horas, Santo Agostinho vai explicar melhor isso mesmo. Vejamos o que ensina Santo Agostinho que, recordo, era um grande pecador antes da sua conversão, isto é, tem a experiência das duas vidas, a escravidão do pecado e a vida livre na graça de DEUS:

Ninguém vem a MIM, senão aquele que é atraído por Meu PAI. (Escreve Santo Agostinho, evocando a SAGRADA ESCRITURA)

Não julgues que és atraído contra a tua vontade: a alma também é atraída pelo amor. Não devemos temer a censura que, por causa destas palavras evangélicas da SAGRADA ESCRITURA, poderiam dirigir-nos alguns homens, que pesam materialmente as palavras, mas estão muito longe de compreender o verdadeiro sentido das coisas divinas. Poderiam dizer-nos:

«Como posso acreditar livremente, se sou atraído?»

E eu respondo:

«Parece-me pouco dizer que somos atraídos livremente: é com prazer que sentimos a força dessa atracção»

Que significa ser atraído com prazer?

Põe as tuas delícias no SENHOR (temos a liberdade de fazer essa escolha...) e ELE satisfará os anseios do teu coração.

Trata-se de um certo apetite da alma que nos torna saboroso o PÃO DO CÉU. Se o poeta pôde dizer:

«Cada um é atraído pelo próprio apetite»,

não pela necessidade mas pelo prazer, não pela obrigação mas pelo gosto, não poderemos dizer nós, com maior razão, que o homem é atraído para CRISTO, porque põe as suas delícias na VERDADE, na bem-aventurança, na justiça, na VIDA ETERNA, e sabe que CRISTO é tudo isto? 

Acaso terão os sentidos corporais os seus prazeres, sem que o espírito tenha também os seus?

Não é o homem corpo e alma? Estará condenado o homem a não ir além da pobreza das reacções químicas e mais nada? Continua Santo Agostinho:

Se o espírito não pode experimentar as suas delícias, porque se diz no salmo:

À sombra das Vossas asas se refugiam os homens; podem saciar-se da abundância da Vossa CASA e VÓS os inebriais com a torrente das Vossas delícias. Em VÓS está a fonte da vida e é na Vossa LUZ que veremos a luz?

Apresenta-me alguém que ame e compreenderá o que afirmo. Apresenta-me alguém que deseje, que tenha fome, que se sinta peregrino e exilado neste deserto, que tenha sede e suspire pela fonte da pátria eterna; apresenta-me um destes homens e compreenderá o que digo. Mas se falo a um coração frio, esse não pode compreender nada do que estou a dizer.

Mostra a uma ovelha um ramo verde e verás como atrais a ovelha. Oferece nozes a uma criança e verás como vem ao teu encontro, correndo para onde é atraída;

é atraída pelo amor, é atraída sem coacção física, é atraída pelos vínculos do coração.

Ora, se estas delícias e estes gostos terrenos, quando se oferecem a quem os ama, exercem tão forte atracção – porque «cada um é atraído pelo próprio apetite» – como não há-de atrair-nos o AMOR DE CRISTO, que é a REVELAÇÃO DO PAI? Que pode a alma desejar mais ardentemente que a VERDADE? De que outra coisa pode sentir-se o homem mais faminto? Para que deseja ele ter são o paladar interior, senão para discernir a VERDADE, para comer e beber a sabedoria, a justiça, a verdade, a eternidade? Diz o SENHOR:

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, cá na terra, porque serão saciados, lá no CÉU.

Dou-lhes o que amam; dou-lhes o que esperam; verão aquilo em que acreditaram sem ver; comerão e serão saciados com aqueles bens de que tiveram fome e sede. Onde? Na ressurreição dos mortos, porque EU os ressuscitarei no último dia.

(Santo Agostinho)

Até amanhã, se DEUS quiser!

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