TC 14,3 C (Salt.: sem II)
Ss. Agostinho Zao Rong, Presbítero, e Companheiros, mártires, MF
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Tudo que escrevi sobre este assunto, a ligações encontram-se no arquivo do blog:
Infelizmente tenho-me desleixado, deixando o tempo passar. Antes de apresentar as cinco vias de São Tomás, na demonstração da existência de DEUS, vamos falar da objectividade da causalidade eficiente, que foi muito atacada pela "modernidade" (entre aspas, porque tal palavra quer sugerir, psicologicamente, uma grande mentira e presunção dos "modernos"). Eles dizem que são livres ou autónomos, e não são nada disso, pois nem sequer têm a experiência da liberdade para poderem afirmar tal coisa. Nunca a conheceram. Só conheceram um tipo de vida. Santo Agostinho é que pode falar de liberdade, porque teve a experiência das duas vidas, assim como São Francisco de Assis, etc, todos eles é que podem dizer o que é ser livre. O orgulho pode dizer isto e aquilo, que não passa de cegueira, e falar do que nunca conheceu, a liberdade genuina.
*** OBJECTIVIDADE DA CAUSALIDADE EFICIENTE
Houve quem questionasse o princípio da causalidade: empiristas e, no outro extremo, os idealistas. Apesar de serem extremos, conseguiram o "milagre" de se juntarem, de algum modo, em relação à crítica do princípio que permite existir ciência: ela existe porque o princípio é verdadeiro, ou não existiria ciência.
A objectividade da causa eficiente, com que se pode demonstrar a existência de DEUS - terá sido essa a razão para se negar o princípio sem o qual não existe ciência nem nenhum conhecimento humano? Não querer aceitar as demonstrações que foram feitas da existência de DEUS? -, foi muito atacada após a Idade Média. Não falo que filósofos mais sérios, como Descartes, Kant, tivessem tal intenção... Se o princípio da causalidade não fosse objectiva, como poderia haver ciência? A única coisa que poderia haver seriam opiniões. Todos esses ataques são facilmente desarmados pelo princípio da contradição: sempre se contradisseram nas suas afirmações.
Basta evidenciar a objectividade da noção de causalidade e se verá que o princípio da causalidade é:
- De evidência imediata (não precisa de análise, qualquer criança poderia ver a evidência; a evidência é o que permite à razão assentir com certeza);
- Analítico (mostra a ligação essencial do predicado (como causa) ao sujeito (como efeito));
- Objectivo (no sentido genuíno da objectidade, objecto distinto da mente que o apreende. A mente até pode apreender um sinal da coisa ou objecto, mas é real, objectivo, não é uma invenção da mente ou aparência, mas um sinal de coisa distinta de nós e real);
- Universal (no sentido genuíno, não necessariamente probabilístico); e mais...
- Aplica-se legitimamente à demonstração da existência de DEUS.
A causa eficiente é o princípio activo que, com a sua acção, influi na produção ou mudança de um ser, o efeito. (Acção, aqui, é no sentido metafísico)
Houve quem dissesse - Hume -, que a causalidade não ia além do hábito de se observar empiricamente uma sucessão de fenómenos (o fenómeno é a manifestação da coisa, não é a coisa ou objecto. As ciências experimentais não tem como objecto, nem podiam, a coisa em si, mas a observação da sua manifestação. A biologia, por exemplo, não tem como objecto, nem pode, a vida, mas a manifestação, aos nossos sentidos, da vida).
Nem tudo é determinismo, como dizia Hume. O simples bom senso distingue a noção de causa, quando está presente, da noção de sucessão constante. Não dizemos que o dia é causa da noite, apesar de vermos a noite suceder-se sempre ao dia. Para Hume, empirista, seria o hábito de ver dois fenómenos sucederem-se constantemente que daríamos ao primeiro o nome de causa e ao segundo de efeito, sem contudo ter o primeiro influído na produção do segundo. Ou seja, Hume nega o princípio de causalidade como analítico (não tem origem na análise dedutiva, mas é fruto da observação de algo habitual).
Não vamos dizer, pelo hábito de observar essa sucessão, que o dia é causa da noite... Nem o bom senso dirá. Mas é preciso distinguir isso de causa. Ela existe quando existe um nexo (ligação, conexão) na sucessão.
Se vir uma casa pintada de branco e mais tarde vir que está pintada de amarelo, há uma explicação ou razão - requer análise ou é imediata (como neste exemplo, até para uma criança) - para isso ter acontecido. Não há nenhum determinismo físico ai, mas uma explicação, uma razão: alguém que teve a intenção de mudar a cor da casa: houve um pintor (naturalmente, como causa final e primeira na ordem da execução, houve um fim, um desejo em mudar a cor da casa) -, um pincel usado pelo pintor, latas de tinta amarela, que são outras causas, e observemos que tudo isso é exterior à casa: a causa é exterior ao efeito, ela nunca está no efeito, mas fora dele.
Por causa de um óbvio: quem recebe uma perfeição, não pode receber de si mesma, ou já a teria em si mesmo - seria contradição dizer que recebe o que já está em si de perfeição... "Ou oito ou oitenta!" -, mas de outro, a causa, que a tem em acto (em ser, no existir).
Verdade é que nem sempre é fácil discernir a verdadeira causa, mas a dificuldade em determinar muitas vezes exactamente qual é a causa não faz com que esta não exista.
Nem vai atacar a objectividade da causa. A causa não é uma suposição subjectiva nem um erro da inteligência (ou ilusão): um homem realmente pintou a casa de amarelo.
- Todo o efeito (existindo) tem um causa:
A causa não depende de nada (salvo como efeito doutra causa), mas o efeito, para existir, sim: tudo que é efeito tem causa. Uma casa de paredes brancas, para existir com paredes amarelas precisa de alguém que tem essa intenção ou desejo (causa final) em pintar a casa de amarelo. O resto vem daí.
Todo o efeito tem uma causa, quando é um efeito: a noite não é o efeito do dia, mas uma mera sucessão, um determinismo físico. Há que distinguir as coisas, não misturar tudo no mesmo caldeirão. O determinismo físico até tem uma causa..., faz parte da leis da CRIAÇÃO, mas o que existe não é a noite, porque existiu o dia, mas a sucessão de dia, noite, dia, noite, etc, conforme - mesmo assim! - as leis da CRIAÇÃO, DEUS, a causa.
- Tudo que começa a existir tem uma causa.
Kant usou esta fórmula e é verdadeira: o efeito, para existir, depende de uma causa. A casa é branca, porque alguém a pintou de branco; mais tarde tornou-se amarela, porque alguém a pintou de amarelo, não foi o acaso que produziu isso.
«Começar» significa passagem do não existir ou do não existir tal (como casa amarela) para o existir tal (como casa amarela).
A causa ou razão de passar a ser o que não era não está no que não era e passou a ser, porque, do nada, não se tira o ser. A causa é sempre exterior ao efeito. A causa nunca está no efeito. Assim, qualquer ser que começa exige necessariamente uma causa eficiente. Até aqui, Kant tem razão. Mas DEUS, sendo eterno, poderia, como causa, criar uma CRIAÇÃO eterna, esta começaria a existir desde a eternidade. Continuaria a ser contingente e desde a eternidade com uma causa (DEUS). Assim, o correcto é dizer:
Todo o ser contingente (contingente significa existir, mas poderia não existir) exige (tem) uma causa (o outro ser, distinto do efeito, que dá a existência ao ser contingente, o efeito).
O ser contingente - está existindo, mas poderia não existir - não existe por si mesmo, mas em virtude da causa: não possuindo a existência como elemento da sua essência (a casa ser (essência no sentido de existência) branca não possui a casa ser amarela, enquanto algo exterior a ela não actuar como causa), não possui em si mesmo a razão suficiente da sua existência (como casa amarela). Por isso - ao vermos que a casa mudou da cor branca para a cor amarela - exige uma causa. Não seria uma sucessão ou o acaso que faria uma casa branca agora ser amarela. Alguma coisa exterior à casa causou isso.
A casa branca pode ser amarela, potencialmente, mas precisa de uma coisa exterior, chamada causa, para dar existência ao que só como possibilidade poderia existir (contingência). A causa, outro ser, tem aquela coisa em acto, existindo.
Uma panela pode ser aquecida (potência). Mas não se aquece sozinha. Para aquecer-se, ela precisa receber o calor de outro ser - o fogo - que tenha calor em acto. Tudo o que muda é mudado por outro. Tudo o que se move é movido por outro. Se houver água dentro da panela, esta ficará quente.
Um outro aspecto de causa e efeito é que a causa é anterior ao efeito, nem poderia ser de outro modo. Assim, uma casa branca não pode tornar-se, por si mesma, casa amarela, porque ou é, naquele momento, casa branca ou amarela, não pode ser ambas as coisas. Antes de ser amarela..., só depois da causa actuar se tornou amarela.
E pode haver causas que poderiam parecer uma sucessão, mas são causas primeiras e segundas:
A gripe de alguém é causado pela chuva, que é causada pela evaporação, que é causada pelo calor, que é causado pelo Sol.
Temos aqui uma sucessão:
{Sol, calor, evaporação, chuva, gripe de pessoa}
Esta sucessão está bem ordenada:
Sol > calor > evaporação > chuva > gripe da pessoa.
O símbolo ">" significa que o antecedente e causa contém, em acto, o consequente e que é efeito, não é uma mera sucessão determinista.
O Sol contém calor em acto, o calor, contém a evaporação, esta, a chuva em acto, pode causar a chuva (a chuva não acontece por si mesma, mas por causa da evaporação), esta pode, por esta e outras causas, causar a gripe a alguém (que, por outras razões, estava, entre outras coisas, com o sistema imunológico enfraquecido; muitas vezes não é fácil ver todas as causas...).
TESE:
O Princípio de Causalidade é imediatamente evidente para nós, nem pode ser negado sem contradição; por conseguinte é analítico, objectivo, universal e aplicável à demonstração da existência de DEUS.
Não vou colocar a demonstração da tese, como está no livro, mas algumas idéias sobre a demonstração, para completar as que já foram colocadas até agora.
I. É imediatemente evidente
A evidência é o critério da certeza, que permite à inteligência, em juízo, afirmar ou negar algo com certeza. Se é imediatamente evidente, até uma criança já na idade da razão pode ver isso, que negar seria uma contradição (para a criança).
A experiência, diz o Padre Pedro Cerruti, SJ, apresenta-nos seres que começam a existir e acabam, seres que se transformam e mudam,..., seres que não têm em si mesmo a razão da sua existência. São os seres contingentes, existem, mas podiam não ter existido. O ser que possui em si mesmo a razão suficiente da sua existência é o ser necessário. Tal ser não poderia deixar de ser o que é, ou seria contingente. Veremos que só DEUS é o SER necessário.
- Um ser não pode ser e não ser ao mesmo tempo pelo princípio da contradição, de modo que passando a ser o que não era, recebeu essa existência doutro ser, a causa.
- Tudo o que existe tem, em si mesmo ou fora de si, uma razão suficiente da sua existência.
Se a água numa panela está a ferver, não é porque a água está e não está quente, pois não pode estar as duas coisas ao mesmo tempo, mas porque o fogo (distinto da água e da panela), aquecendo a panela (a condição), aqueceu a água.
O Princípio da Causalidade está contido no Princípio da Razão Suficiente. Um ser contingente, naquilo que é (a sua essência) não possuindo a existência como razão de estar a existir (poderia não estar a existir e não pode ter em si, na sua essência, as duas coisas ao mesmo tempo), porque está a existir, deve ter necessariamente a razão da sua existência noutro ser, do qual depende para existir, do qual recebe o influxo para existir, pelo qual é causado.
A água está fria, mas pode estar quente. Mas não pode estar fria e quente ao mesmo tempo, impossível. Vejo de momento - contingência - que a água está quente, e assim permanece, quente, enquanto recebe calor do fogo, que não é a água, mas outro ser. Se o fogo - a causa - apagar, pois é também um ser contingente, a água irá perdendo o calor até tornar-se fria. Não, por algum acaso ou regra de sucessão empírica habitual, mas porque a causa já não actua na água para aquecê-la. Não é, como diz Hume, porque é habitual a água arrefecer (hábito), quando o fogo se apaga, mas porque o fogo se apagou ("apagou-se" a causa).
A água, enquanto quente, recebe do fogo, outro ser, o calor que o fogo possui em acto, recebe-o, essa nova existência - ou essência, ou acto - (água quente) por participação. Receber por participação o que não tem (mas pode ter, potência), doutro ser que tem em acto, é depender desse outro ser - a água estar quente depende do fogo, melhor, do calor que existe em acto no fogo - quanto à sua existência, é ter nele a sua causa.
Daí, o ser contingente tem necessariamente uma causa.
II. Não pode tal princípio ser negado sem contradição...
Isso é claro. Se eu nego tal princípio. passo a dizer que um ser contingente, existindo, não tem causa. Como isso é possível? Se não tem causa, não depende doutro (a sua existência). Então teria que ter a razão da sua existência em si mesmo. Isso contradiz ser um ser contingente, isto é, que não tem em si mesmo a razão da sua existência.
III. Por conseguinte é analítico.
Um princípio é analítico quando o nexo (conotação, ligação) entre dois termos - o sujeito e o predicado (aquilo que se afirma do sujeito) - é evidente pela simples análise destes dois termos, sem ter que recorrer à experiência ou à indução científica. Basta raciocinar.
Isso acontece quando o nexo é intrínseco e necessário, de modo que negar a proposição, passa a ter o mesmo valor que a contraditória duma proposição.
Vamos aos exemplos abaixo:
Todo homem tem cabelos louros. (P)
A proposição é falsa.
A contraditória só pode ser verdadeira (pois P é falsa):
Algum homem não tem cabelos louros. (Contraditória de P e verdadeira)
Nas contraditórias, uma é verdadeira, se, e somente se, a outra é falsa. Não podem ser ambas verdadeiras ou ambas falsas. Se, neste exemplo, P é falso - de facto é, é uma verdade imediata da experiência -, a contraditória (algum homem não tem cabelos louros) é verdadeira.
Negar P - nega-se o predicado e mantém-se a extensão do sujeito (no caso, «todo») - é a proposição contrária (uma negação ou oposição mais fraca que a contradição):
Todo homem não tem cabelos louros (Contrária de P e falsa como P é falsa)
Ambas são falsas. Isso acontece porque não é intrínseco nem necessário um homem ter cabelos louros, para ser homem. Enquanto a contraditória tem a máxima oposição de modo que sendo verdadeira, P é falsa, sendo falsa, P é verdadeira, nas contrárias, podem, como neste exemplo, ambas serem falsas, porque cabelos louros não é intrínseco nem necessário ao homem.
Consideremos agora a seguinte proposição:
Todo homem é mortal. (P)
É verdade e é uma verdade intrínseca e necessária ao homem.
A contraditória seria necessariamente falsa, independentemente da verdade ser intrínseca ou não, como no exemplo acima:
Algum homem não é mortal. (Falso porque P é verdadeiro)
Por causa da verdade ser intrínseca e necessária, a contrária, tem a força da contradição. A contrária agora é necessariamente falsa, dado que P é verdadeira:
Todo homem não é mortal. (Falso porque P é verdadeira e o predicado "mortal" é intrínseco e necessário ao homem, é uma das notas constitutivas na compreensão de "homem")
A negação passou a ter a força da contraditória: o homem é mortal ou é imortal, não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Assim acontece com o Princípio da Causalidade:
- É por si mesmo imediatamente evidente, não precisa de indução científica;
- Não pode ser negado sem contradição, logo o nexo entre os seus termos é intrínseco e necessário;
- No princípio de causalidade, o sujeito é «ser existente contingentemente» e o predicado é «exige necessariamente uma causa». Na essência do sujeito não está a razão da sua existência, porque, podendo existir e não existir, fica indeterminado quanto ao existir. Para existir, terá de receber de fora essa determinação. A água pode estar fria ou quente; para estar quente, será necessário o fogo, outra coisa distinta da água e causa da água estar quente. Para ver este óbvio, não precisamos de recorrer à experiência ou à indução científica, apenas ao raciocínio dedutivo: é analítico.
IV. É objectivo
O princípio de causalidade exprime o nexo necessário de dependência que o ser contingente existente tem para com uma causa. Mas esse nexo ou ligação é real, existe na realidade? Ou é aparências? Ou é alguma coisa que existe apenas no espírito do homem? Mas se assim fosse, como poderia existir ciência?
O nexo de dependência do ser contingente (água quente) para com a sua causa (fogo) é real e objectivo. É objectivo e aplicável à realidade, acontece de facto na realidade. Atesta-o a nossa experiência toda, quer espontânea quer científica, de um modo absoluto (não dá espaço à ditadura do relativismo) e sem excepção alguma, em qualquer espécie de fenómeno e em todos os sectores da nossa actividade. (...) Ao formular este princípio, a nossa inteligência vê e compreende a necessidade de exigir uma causa, quando nos achamos diante de um acto que não se explica por si mesmo (a sua existência).
Vemos algo, que não existia, a existir. Do nada é que não veio! Vemos uma pintura: do nada é que ela não veio! Alguém - causa - a pintou, conclusão óbvia e racional que não precisa de indução ou recorrer à experiência, apenas de raciocínio, raciocínio que sabe perfeitamente que houve um pintor real (existe ou existiu) para a pintura existir.
Eis algumas coisas absurdas da negação da objectividade do princípio de causalidade (eficiente):
Uma pessoa X morreu porque alguém (a pessoa Y, a causa, o responsável) apunhalou X. Se não há objectividade nenhuma em tudo isso, também não se pode mais afirmar que Y é responsável pela morte de X. Quem sabe, foi um espirro de Z quem fez isso, ao espirrar no momento da punhalada! Etc! Também não haveria mais ciência...
V. É universal
Aplica-se a todos os seres contingentes. O que convém a um homem por ser homem (por exemplo, a mortalidade), convém a todos os homens (em todos eles existe a mortalidade). (...) Pouco importa se esta causa seja em si mesma visível ou invisível, material ou espiritual, natural ou sobrenatural. (...) Ninguém viu a força de gravidade em si mesma; admite-se porque ela se manifesta no seu efeito: a queda livre dos corpos. (...) O motivo (a razão formal) de existir uma causa não é ser o efeito um fenómeno sensível, mas ser contingente. (...) O princípio de causalidade aplica-se a todo e qualquer ser contingente.
Todo ser enquanto ser possui uma razão suficiente da sua existência: assim DEUS, assim as criaturas (ou seres contingentes). Ter uma causa é exigência do ser enquanto ser contingente. Só DEUS, o SER NECESSÁRIO não exige uma causa: a Sua existência é a própria essência: na Sua mesma essência tem a razão suficiente do Seu existir sem precisar de recebê-l'a de fora (sem precisar de ser causada). Afirmou-se o óbvio, sobre DEUS, mas nas demonstrações se verá porque tem de ser assim (sem elas, poderíamos não ter visto tal óbvio sobre DEUS com mais clareza e entendimento).
VI. É aplicável à demonstração da existência de DEUS
Qualquer ser contingente, bem como qualquer série, mesmo infinita, de seres contingentes, sendo incapazes de explicar por si mesmos a própria existência, não podem constituir a razão suficiente do efeito: como nenhum espelho, nem uma série (mesmo que) infinita de espelhos, pode explicar por si só um raio de luz, sem uma fonte luminosa fora dos espelhos e neles reflectida. Não é verdade?
Logo, para explicarmos a existência dos seres do universo, que a análise nos apresenta com evidência (com certeza...) como sendo todos contingentes (e será função dos argumentos demonstrá-lo), obriga-nos o princípio da causalidade a subir até ao SER não contingente, transcendente ao universo e causa dele (a causa tem que ser outro SER distinto do universo): DEUS.
Como ninguém dá o que não tem - só o que tem (como causa para outro ser contingente...) -, a causa deve possuir realmente as perfeições que comunica ao seu efeito. Mesmo que, por deficiência da nossa inteligência, isso seja apreendido de modo análogo, por semelhança analógica, pois DEUS é infinito.
Sobre a existência de DEUS, com a demonstração da Sua existência, passaremos a ter um conhecimento tão certo e objectivo quanto o temos da realidade visível. Negar - uma vez demonstrado -, não será a razão a fazê-lo, mas o irracional. Quanto à essência de DEUS, teremos dela um conhecimento certo e verdadeiro, embora imperfeito e analógico, proporcionado à semelhança que os efeitos têm com ela, porque DEUS é infinito e a nossa inteligência finita.
Para terminar:
Sem os condicionamentos "modernistas", pode-se compreender, no princípio de causalidade, que não poderia ser um lei do pensamento (imaterial no nosso espírito), se não fosse um lei da realidade (objectiva). Onde estaria a autoridade das ciências, se assim não fosse? Nas opiniões? É uma ilusão, até ingénua, crer que a nossa mente imponha os seus esquemas à realidade - como teoriza a cultura da morte... -, quando é por demais evidente que a realidade nos domina e dita as suas leis. Violando essa realidade, os efeitos são o mal.
Confundir o nexo de causalidade com o de sucessão (mesmo necessária), é fazer como aquele célebre galo que julgava ser ele quem fazia surgir o Sol porque cantava invariavelmente antes do seu levantar. Um galo megalomaníaco. A megalomania está na moda, desde que o homem fez do homem, que nada vale sem DEUS - nem livre pode ser, mas escravo de tudo... -, um ídolo.
O Padre Pedro Cerruti, SJ ainda vai falar, no livro, sobre este princípio e as ciências experimentais. A confusão que Hume e Kant, com as suas idéias erradas sobre o princípio da causalidade, causaram a muitos cientistas, e é uma boa leitura, em particular, para os cientistas. Só muito resumidamente digo aqui: tal princípio se aplica a todo o conhecimento científico, mesmo que o cientista não tenha consciência disso (está a toda a hora a usar o raciocínio dedutivo, sem o qual nada poderia concluir do que observa e experimenta...). Sem raciocínio, não há ciência. A observação não diz nem «sim» nem «não». Isto é faculdade da inteligência. Nada se explica sem o «porque», nas ciências experimentais, mas não por causa de algum determinismo, mas porque há razões para isto ou aquilo que observamos. Até a sucessão dos dias e noites tem uma causa para existir, mas não é o dia que causa a noite nem a noite que causa o dia, é preciso o raciocínio, depois da observação, para concluir «sim» ou «não». É óbvio que a água aquece por causa (causa) do fogo, não, porque isso é um hábito, mas porque há uma razão ou explicação para isso: de facto, o fogo transmite o calor que a água na tinha e passou a ter.
Se DEUS quiser, o próximo assunto será a primeira via da demonstração da existência de DEUS. Até amanhã, se DEUS quiser!