quarta-feira, 10 de setembro de 2014

06 Quem como DEUS? (23)

TC 23,4 A (Salt.: sem III)
Quarta-Feira da semana 23 do Tempo Comum.

***   ***   ***

Todo este assunto, desde o início, encontra-se


***   ***  ***

Embora já tenha mencionado isso, antes das provas, é importante lembrar de novo (a grande diferença): As provas da existência de DEUS - basta uma delas para garantir que DEUS existe - são todas «ad posteriori», partem de factos, como efeitos, cuja causa - conclui necessariamente qualquer das vias - só tem explicação racional em DEUS.

Vimos que há os que negam DEUS, mas ficam na opinião irredutível, porque nada provam do que afirmam (nem poderiam...). Há os que até crêem em DEUS, mas dizem que a prova não está na argumentação racional - como se isso fosse possível -, mas noutra parte, dispensando a razão. Como pode isso ser possível? O homem é um animal racional, isto é, tudo que passa no homem, também os sentimentos, as experiências místicas, etc, passam necessariamente pela razão, e só esta pode explicar coisas. E há os que dizem que não é necessária a prova da existência de DEUS, pois é de conhecimento imediato, e os que dizem que pode ser provada a existência de DEUS «ad priori».

Sobre o conhecimento imediato de DEUS não é possível porque a nossa inteligência (ou mesmo a dos anjos) não é, como em DEUS, a causa nem a medida da realidade das coisas. O facto de pensarmos em fadas ou duendes, por exemplo - uma coisa da fantasia -, não fazemos que estas coisas passem a existir realmente fora da nossa inteligência, não somos como DEUS, mas criaturas. Não podemos criar, só DEUS pode: tudo que existe está no Seu PENSAMENTO. Qualquer coisa que não esteja no Seu PENSAMENTO não existe. Em relação ao pensamento humano, ou este se adequa à realidade das coisas (matéria) ou não existem, salvo no espírito (ideal).

Quanto ao argumento ontológico de Santo Anselmo, uma prova «ad priori», não é possível pela mesma razão que não é possível o conhecimento imediato: o que está no pensamento humano de forma ideal (e abstraída) não necessariamente tem existência real (actual ou possível). Na argumentação de Santo Anselmo ou de Descartes, há uma passagem do ideal para o real.

Todos têm uma idéia de DEUS - até os ateus, quando O mencionam -, têm uma idéia de QUEM é DEUS. Mas isso não permite concluir que existe fora da nossa inteligência um SER que realiza esta nossa idéia de DEUS.

O que está no nosso pensamento pode só existir idealmente ou ter existência real (actual ou possível). Como são duas as possibilidades, a única coisa que se pode concluir é de modo hipotético: Se existir fora da nossa inteligência o SER que realiza esta nossa idéia de DEUS, então DEUS existe. Não provou nada, é apenas uma hipótese. Na prova «ad priori» de René Descartes ou de Santo Anselmo, a única coisa que se pode concluir é que, se DEUS existe, DEUS existe. Não provou nada. Para que o que está no pensamento humano, como existência ideal, possa existir de facto - como existência actual ou possível -, é necessário que esse pensamento tenha matéria, esteja em conformidade com as coisas criadas por DEUS.

Daí, não é possível demonstrar DEUS «ad priori» nem ter o conhecimento imediato de DEUS. Daí, o imenso valor científico das vias de São Tomás de Aquino, que provou a existência de DEUS (qualquer umas das vias é suficiente), indo dos efeitos à causa («ad posteriori»). E não bastasse, deu origem a uma série de vias particulares para se poder concluir que DEUS existe ou, não há alternativa, peço o divórcio - (que é coisa feia) - à Sra. Razão.

«Qualquer ser, por mínimo que seja, é bastante para nos levar necessariamente a DEUS. Mas alguns seres manifestam uma necessidade especial do influxo imediato de uma CAUSA primeira criadora: são as vias particulares:

Eis as provas da existência de DEUS nas chamadas vias particulares. São elas:

- A existência da matéria com a sua limitação, suas energias, seus movimentos determinados;
- A origem da vida sobre a Terra;
- Os instintos admiráveis dos animais; e
- A natureza do homem.

Esses factos, observáveis, só se explicam racionalmente com a existência de DEUS, CAUSA e INTELIGÊNCIA CRIADORA.

Não deixa de ser interessante que nas vias particulares, a argumentação metafísica serve-se do que a ciência da experimentação foi descobrindo ao longo do tempo... De facto, a Filosofia, ao contrário do que talvez muitos pensariam, costuma usar as próprias descobertas das ciências da indução para provar teses, e assim nas vias particulares, que decorrem das vias de São Tomás.

Por exemplo, em relação ao mistério da vida:
- Tempo houve em que sobre a Terra a vida não existia, nem podia existir. É a geologia que demonstra (O que a SAGRADA ESCRITURA revela...);
- A vida não provém de outros astros mais antigos do que a Terra, já disseram isso, mas haja imaginação para se tentar negar DEUS! Germes (em naves espaciais talvez...) conservando-se vivos durantes milénios no espaço sideral? Não há vida que resista a isso! Mas também donde vieram? Se do acaso, então não precisamos de recorrer aos extra-terrestres..., mas adoptar o acaso e abandonar a razão. Mesmo admitindo o absurdo de vida vindo doutras partes do universo, continuaria a questão: qual a origem desses germes?
- A vida não é fruto duma geração espontânea, mas mesmo se fosse - mesmo se DEUS tivesse estabelecido uma lei de geração espontânea -, não seria a vitória do materialismo, movido pelo ateísmo, que tanto mastiga esta pastilha elástica: «Sendo uma passagem da matéria anorgânica para o ser vivo, a geração espontânea seria uma mudança, e como tal (e se viu), um ponte de partida que nos levaria necessariamente ao PRIMEIRO MOVENTE IMÓVEL, DEUS (1ª via); seria uma série de mudanças ordenadas que nos levaria racional e necessariamente a uma INTELIGÊNCIA ordenadora e criadora, DEUS (5ª via). Fruto da geração espontânea ou não - tanto faz! - a vida exige DEUS, a única explicação racional para tal.

Os instintos do animais, outro exemplo, exige DEUS ou nada se explica. Se comprarem o livro do Padre Pedro Cerruti SJ, poderão ver tudo isso que aqui apenas apresento muito cortado e por alto.

Cabe notar que ao contrário do homem, que sendo inteligente (pensa), pode agir pelo pensamento e/ou pelos instintos, perante o conhecimento sensitivo que adquire duma situação, o animal bruto só age pelos instintos, pois não pensa. Pode ser uma vantagem, mais rápido diante duma situação de perigo - pensar leva mais tempo, até decidir se agir segundo o instinto ou não, ou o modo como agir segundo o instinto -, mas também não pensar é que pode ser uma desvantagem: o homem não correria para a ameaça para se proteger, como fazem certos insectos, correndo para debaixo do sapato de alguém para se proteger do perigo (não têm inteligência para verem que correm para o perigo). Os animais brutos também têm uma conhecimento sensitivo - por isso não são vegetais -, mas não fazem juízos e tiram conclusões, pois não pensam, não têm inteligência. Podem conhecer e, em função disso, agir segundo o instinto - muitas vezes parecem até humanos (DEUS os criou assim) -, mas só isso. Pelo conhecimento sensitivo, podem aprender a falar (papagaio), fazer coisas que fazem lembrar o homem, mas não podem compreender nem julgar situações, não pensam. O homem, pelo contrário, em função do conhecimento sensitivo, pode agir pelos instintos, mas segundo o raciocínio que faz em cada situação. Há uma diferença infinita entre o homem e um animal bruto.

Os instintos nos animais só tem explicação com a existência de DEUS. E o filósofo recorre às descobertas das ciências experimentais:

- «As aranhas, na construção das suas teias, com formas orbiculares a espiral logarítmica (Matemática!), resolvendo - parecendo resolver, não resolvem nada, apenas seguem os instintos - os mais árduos problemas de geometria relativos à disposição, força relativa dos fios e espaço entre eles; com suas 6 espécies de fios, com os seus pentes, com suas várias secreções; as armadilhas e a porta dobradiça da migala, etc.
- Os numerosos insectos cirurgiões: a amófila eriçada estudada por Fabre, o zangão solitário, o pompílio, a escólia, o sphex, a cerceris..., que parecem conhecer perfeitamente toda a anatomia interna das vítimas escolhidas para alimento das suas larvas. (E nunca estudaram nem fizeram curso de cirurgião, nem tiveram um microscópio, nem andaram a fazer experiências nos laboratórios, como fazem os homens, agora, sim, para conhecerem algo, mas parecem conhecer toda a anatomia interna das vítimas...)
- Os castores, com suas cabanas e diques; os ninhos dos pássaros e os instintos maternos; as migrações dos pássaros, dos peixes, dos insectos...

É impossível não admirar nestas actividades instintivas uma ordem finalista e, portanto, não reconhecer a intervenção de uma inteligência, que conhecia o fim e adaptou os meios a esse fim.

Essa inteligência, óbvio, não está nos animais: não têm linguagem racional, só uma espécie de interjeições, e não progridem racionalmente: qualquer pesquisador dos tempos actuais, observando um animal, não vai descobrir nada de diferente do que descobriu o pesquisador de antigamente: o castor constrói hoje a sua cabana como já o faziam os seus antepassados há milénios; as teias de aranha encontradas nas regiões do mar Báltico, em blocos de âmbar do período oligoceno (uns 10 milhões de anos atrás), são em tudo perfeitamente iguais às actuais.» Etc! Sabemos que as coisas não seriam assim, se essas criaturas tivessem inteligência como o homem e fizessem isso, não, por instinto, mas com inteligência... O castor, hoje, poderia continuar a construir as cabanas, mas não como antigamente, haveria um progresso nessas cabanas, se eles não agissem instintivamente, mas com inteligência.

Podem aprender por imitação instintiva (papagaios, macacos), por associações casuais de imagens, repetindo o animal uma série de acções, que já experimentou terminarem em algum bem sensível (cão que abre uma porta, macaco que tira o cadeado da sua gaiola e empurra a porta com a sua cabeça). Pode o amestrador criar associações na memória sensível do animal - faz parte do conhecimento sensitivo, que também o homem possui - e obter uma série de acções aparentemente intelectuais, que nos deixam admirados. Nunca, porém, vemos um animal aprender por raciocínio e instrução intelectual: amestrar não é instruir. Mas essas coisas todas são possíveis porque os animais têm o conhecimento sensitivo.

O instinto não é um conhecimento racional do animal: são inatos e hereditários, não precisam de nenhuma experiência sensitiva (como precisa a razão humana para formar os conceitos por abstração), não são adquiridos nem aperfeiçoados no tempo (sempre o mesmo e para toda a espécie). Contrariado o instinto, este não é interrompido: a amólia, por exemplo, se lhe fôr roubada a presa anestesiada, agita-se e a procura por um momento. Se pensasse como o homem, não haveria mais razão para tapar a cela onde depositou a sua larva, mesmo assim, porque é instintivo, tapa a cela.

Só há uma explicação racional para tudo isso que se observa nos animais: a causa dos instintos é a INTELIGÊNCIA CRIADORA de DEUS.

Em relação ao homem, já vimos o argumento etnológico muito resumidamente em «Quem Como DEUS (20)», no final, após mostrar como se provou a existência de DEUS pela 5ª Via. Mas quero repetir essa relevância:

«Em todos os tempos e em todos os lugares, o género humano admitiu a existência de um SER supremo. Ora, uma tal persuasão, assim constante (em todos os tempos) e universal (em toda a parte e cultura), só pode encontrar a sua razão suficiente numa exigência natural e no exercício normal da razão humana.»

E ainda há os argumentos psicológicos e morais. Tudo isso poderão ler no livro do Padre Pedro Cerruti SJ de modo extensivo e agradável, e surpreender-se com tantas provas da existência de DEUS, se calhar nem lhe passaria pela cabeça que houvesse tantas maneiras de provar a existência de DEUS, porque isso não é divulgado. Mas duvido que haja alguma coisa, do que foi provado pelo homem, que possa competir com as muitas maneiras de se provar que DEUS existe. Tantas e tantas provas da existência de DEUS, e basta uma delas para provar que DEUS existe.

Até amanhã, se DEUS quiser!

Sem comentários: