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ASCENSÃO DO SENHOR
(Onde fôr feriado. Assim deveria ser na civilização ocidental, que nasceu do cristianismo (e só do cristianismo nasceu, assim como a Europa, no continente europeu, nasceu do cristianismo; antes do cristianismo, só existia o continente europeu, não existia a Europa))
Rogações
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Todas as ligações do assunto encontram-se arquivadas aqui:
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Resumindo o assunto anterior, vimos que, em relação a DEUS, à Sua existência, houve reacções negativas e positivas, mas algumas positivas - DEUS existe -, na práctica, conduziam aos ídolos e a um deus estranho e como se não existisse, longínquo, nada querendo connosco e com a CRIAÇÃO. Esse deus equivalente a ser irrelevante a sua existência - como se isso fosse possível... - é o resultado de se procurar demonstrar a existência de DEUS sem o recurso à razão. Como é possível, se a razão está presente em tudo que o homem conhece ou pode conhecer? Sem a razão, faculdade da alma humana e espiritual, o homem não pode conhecer nada. Uma posição mais séria - pelo menos não levava a deuses estranhos e a uma vida que não diferenciaria da dos que assumiram uma posição negativa - é a dos ontologistas e aprioristas: não dispensam a razão, o que é coerente, mas deram capacidades à razão natural que não temos (nem os anjos as têm, nenhuma criatura as tem); DEUS é infinitamente superior às potencialidades da nossa inteligência, que até pode conhecer DEUS, como olhando uma montanha imensa, mas sem a compreensão, sem poder abraçar essa montanha, é vasta para os nossos curtos braços. O método lícito é o uso da razão, como só podia - é possível demonstrar a existência de DEUS -, mas só «ad posterior», como fez São Tomás de Aquino.
É claro que não preciso de demonstrar a existência de alguém, por exemplo, de Pedro, uma pessoa concreta, na sua singularidade, diante de mim. Quem crê em JESUS CRISTO (em DEUS), não precisa de demonstrar nada... Mas a justificativa racional (natural) também é importante, em particular, como argumento científico para os que não crêem em DEUS devido a razões não racionais: serão sempre outras razões que impedem alguém de abrir-se (buscar) a DEUS. Diz Bento XVI:
DEUS dá-SE a conhecer, revela-SE, entra na história, agindo por meio de mediadores, como Moisés, os Juízes, os Profetas, que comunicam ao Seu povo a Sua vontade. Esta revelação alcança a sua plenitude em JESUS CRISTO. N’ELE, DEUS vem visitar a humanidade, de um modo que excede tudo o que se podia esperar: fazendo-SE HOMEM. Com CRISTO, se concretiza um desejo que permeava todo o Antigo Testamento: ver a FACE DE DEUS. De facto, por um lado, o povo de Israel sabia que DEUS tinha uma face, ou seja, é ALGUÉM com QUEM podemos entrar em relação (entrando em relação, é preciso demonstrar alguma coisa? É assim que fazemos, quando entramos em relação com alguém? «Espera que quero demonstrar se realmente existes».), mas por outro lado, estavam cientes de que era impossível, nesta vida, ver a FACE DE DEUS; ESTA permanecia misteriosa, inacessível e, portanto, não representável (DEUS é espírito puro, não se pode representar por imagens sensíveis, que pertencem ao mundo dos corpos). Mas, com a ENCARNAÇÃO, DEUS assume uma face humana. JESUS nos mostra a FACE DE DEUS e por isso é o Mediador e a plenitude de toda a revelação: n’ELE vemos e encontramos o PAI; n’ELE podemos invocar a DEUS como PAI; n’ELE temos a salvação. (Bento XVI)
O Padre Pedro Cerruti SJ, após questionar racionalmente o absurdo das posições negativas e das que pretendem outras vias de demonstração sem o uso da razão, e depois de ter mostrado porque o ontologismo e o apriorismo são incapazes de demonstrar a existência de DEUS: ELE é DEUS e nós criaturas..., passa a justificar (racionalmente) porque só o processo de demonstração «ad posteriori» - a realizada por São Tomás de Aquino - é legítima para demonstrar a existência de DEUS. Tudo que colocar em itálico é do autor e copiado aqui. O que não está em itálico, se fôr asneira, é minha asneira, nunca do autor do livro que sigo neste momento.
Cabe anotar que no raciocínio dedutivo, na sua forma mais simples e que é base do raciocínio dedutivo, o silogismo categórico, nós temos a demonstração de modo simbólico assim:
M = T (Premissa Maior por ter o termo maior «T», que é o predicado da conclusão);
Ora, t = M (Premissa Menor por ter menor «t», que é o sujeito da conclusão)
Logo, t = T (Conclusão)
O termo da comparação, «M», é chamado de termo médio. O símbolo «=» está a ser usado aqui sem o significado que se usa em matemática. Em relação à extensão, «=» quer significar:
M está contido ou é equivalente a T:
Ora, t está contido em M (ou é equivalente a M);
Logo, t está contido em T (ou é equivalente a T).
Em relação à compreensão - outra forma de raciocinar equivalente -, porque T está na compreensão de M, e M a na compreensão de t, pode-se concluir que T está na compreensão de t, isto é, tudo que caracteriza T está em t (que tem outras notas constitutivas que não são de T, possui maior compreensão que T).
Numa demonstração «ad priori», o termo médio (M), na realidade objectiva, é anterior ao predicado da conclusão ou termo maior (T), como no silogismo categórico acima em símbolos. Nesse raciocínio, parte-se de uma causa - aquilo que explica - para demonstrar o efeito: a Lua tem luz porque é iluminada pelo Sol (a causa explicativa da luz da Lua).
Cabe notar (e anotar) que as ciências físicas, que usam o raciocínio indutivo pela observação e experimentação, precisam sempre do raciocínio dedutivo: após se ter observado e analisado, podemos dizer, como conclusão dedutiva, que a Lua tem luz por causa do Sol que a ilumina.
Na demonstração «ad posteriori», o termo médio, na realidade objectiva, é posterior ao predicado da conclusão: parte-se do efeito (o facto) para demonstrar a sua causa (o que causa o efeito).
Pedro é mortal porque:
Todo homem (M) é mortal (T); ora, Pedro (t) é homem (M), logo Pedro (t) é mortal (T). A causa de Pedro (t) ser mortal (T) é ser homem (M). Notemos que M é anterior a T, em «M = T», «M» está à esquerda de «T».
Na demonstração «ad posteriori», Pedro é homem e verificamos que há algo que acontece a todos os homens: a morte física. A morte física existe, é um facto. Antes do primeiro homem morrer, ele nem sabia o que era isso; só passou a saber quando viu isso acontecer pela primeira vez: ao contrário do que pensava Platão - e depois insistiram no erro outros filósofos como Emanuel Kant -, salvo nos primeiros princípios, o nosso conhecimento é todo «ad posteriori», como ensinou Aristóteles.
Eu só vou saber o que é um carro quando vir o primeiro, quando os meus sentidos tiverem apreendido uma imagem material do primeiro carro. Então a minha inteligência, avaliando o que o cérebro apreendeu materialmente, por abstração, uma operação espiritual da inteligência, faculdade da alma humana, formará um conceito para todos os carros, mesmo para os que ainda não existirem e, no futuro, tomarem uma forma material tal que, se o nosso conhecimento intelectual fosse mera química do cérebro - órgão do corpo humano - não poderíamos identificar como carro um carro tão diferente assim da imagem que os meus sentidos apreenderam pela primeira vez. No acto da criança ou adulto começar a conhecer, sempre, pelos sentidos, haverá objectos materiais que terão de ser apreendidos mais vezes até a inteligência poder formar uma idéia ou conceito universal pela abstração.
VALIDADE DA DEMONSTRAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE DEUS «AD POSTERIORI»
TESE:
Da existência real do universo sensível (a pintura) deduz-se legitimamente a existência real de DEUS (o PINTOR).
Notemos a afirmação «real», que é muito importante. Na matemática, ciência puramente formal, não precisa de ter matéria, basta a forma; na matemática pode-se desenvolver espaços não euclideanos, raciocínio formal impecável, mas sem a matéria, é apenas ideal, sem existência real - possível ou actual -, só existe no espírito.
- POSIÇÃO DA TESE:
1. A demonstração «ad posteriori» parte do que na ordem ontológica e real é posterior (efeito) para subir ao que é anterior (a sua causa). É preciso, porém, que na ordem lógica do conhecimento seja o efeito conhecido por primeiro, para deste conhecimento poder chegar ao da causa.
Se conheço uma pintura, estou a vê-la (efeito e um facto real), é imediato que existiu ou existe um pintor, realmente (a causa da pintura).
2. A noção de um ser é clara ou obscura, conforme nos permite distinguir este ser de todos os outros, ou não. A noção clara é distinta ou confusa, conforme exprime e dá a conhecer explicitamente os elementos essenciais do ser, ou não.
A noção de DEUS pressuposta ao argumento «ad posteriori» é a noção clara embora confusa que todos entendem ao pronunciar o NOME de DEUS: o SER supremo, do QUAL tudo depende.
Clara, porque ao dizermos «DEUS: o SER supremo, do QUAL tudo depende», dizemos isso de DEUS como SER distinto dos outros seres que d'ELE dependem. Isso é imediato à nossa consciência! Num segundo momento, é que alguma desonestidade nossa pode querer opor-se ao que foi imediato na consciência por razões que não são as da razão. Mas é verdade que essa noção clara ainda é confusa, como seria confuso para uma pessoa que não é bióloga, escutar algo de um biólogo, mesmo que em linguagem para todos entenderem (entenderem de modo confuso).
A noção distinta (embora analógica) de DEUS só será obtida como resultado da demonstração científica da Sua existência.
Tal como as noções de biologia são (ou deveriam ser) claras e distintas para o biólogo, pois estudou biologia, a demonstração da existência de DEUS nos faz passar de uma noção clara e confusa - sobre o SER supremo, do QUAL tudo depende (mesmo se no Seu acto de criação contínua tivesse imposto alguma lei de evolução nas criaturas... ou não, mas esta evolução, se DEUS assim fez as coisas, nada tem a ver com a evolução ateia e irracional) - para uma noção clara e distinta, embora, claro está, porque DEUS, analógica.
3. Este processo (de demonstração) é o caminho dos FACTOS (todo maiúsculo como está no livro; o autor pretende chamar a atenção que é pelos factos que se demonstra a existência de DEUS e não, por fantasias ou crenças, como acontece em muitas teorias modernas), isto é, da realidade das coisas, como elas se apresentam à nossa observação, mesmo comum («mesmo comum», isto é, observação que não precisa de pesquisas nem de conhecimento científico..., esta observação está ao alcance de todos os homens, "letrados" e "iletrados"...), e à nossa análise (agora, coisa trabalhada): subimos dos seres reais existentes, reconhecidos como efeitos criados (não vieram do acaso, que nem existe; o que existe é que não podemos saber de tudo nem podemos prever tudo e chamamos a essa limitação e ignorância de «acaso» em probabilidades), para o SER real incriado e CRIADOR deles.
4. Caminho (de raciocínio, da argumentação científica) já indicado na SAGRADA ESCRITURA (o autor lembra isso mesmo, mas a demonstração não vai levar em conta a SAGRADA ESCRITURA, apenas a luz natural da razão estará presente na demonstração), ensinado pela IGREJA e seguido pela Filosofia perene desde Anaxágoras, Aristóteles..., até hoje, bem como pelos maiores génios em qualquer ramo do saber humano (todos chegaram a essa conclusão da existência de DEUS, ao subirem, no raciocínio puramente humano e imparcial, pela observação das criaturas. Um cientista não precisa de ser ateu ou agnóstico para ser cientista, nem, segundo Pedro Cerruti SJ, os maiores o foram, mas crentes em DEUS: as suas pesquisas científicas levaram a isso mesmo).
5. Negam (mas não demonstram, apenas opinam) a legitimidade da demonstração «ad posteriori» os sistemas que refutámos até aqui (e que mencionei só por alto tais sistemas e a refutação), enquanto apresentam os seus processos como exclusivos (através dum "decreto-lei" impositivo e nada científico).
- DEMONSTRAÇÃO:
É possivel e legítima a demonstração «ad posteriori» quando existem seres que apresentam evidentemente o carácter de efeito e que nós conhecemos melhor e antes de conhecer a sua causa (aliás, também a matemática usa a demonstração «ad posteriori» e Sherlocks Holmes descobre o criminoso (causa) só depois de conhecer o crime (o efeito)): pois, como o efeito depende essencialmente da sua causa, o facto da existência real de um efeito exige necessariamente a existência real da sua causa. (São Tomás, I, q. 2, a. 2)
Deve-se ter atenção às palavras:
- O efeito depende essencialmente da sua causa;
- O facto da existência real (não é só ideal, não existe só no espírito humano) de um efeito exige necessariamente a existência real (tem que ser real) da sua causa.
Ora, os seres visíveis deste universo:
a) São para nós mais conhecíveis do que DEUS (embora em SI Mesmo, seja DEUS mais conhecível) e os conhecemos de facto antes de conhecermos a DEUS: pois, são o objecto proporcionado, próprio e imediato da nossa inteligência; DEUS, pelo contrário, não é atingível imediatamente em SI Mesmo pelas forças naturais da nossa inteligência, como vimos ao refutar os Ontólogos.
Esta refutação aos Ontólogos não foi vista aqui, por mim, neste trabalho, eu pulei o assunto, mas realmente não podemos ter o conhecimento de DEUS imediatamente em SI Mesmo, não só porque os nossos sentidos, por serem materiais (faculdades do nosso corpo), não podem conhecer (apreender) objectos imateriais, como também DEUS tem um modo de existir infinito. A essência divina não pode constituir o objecto formal conatural, atingível em si mesma imediata e intuitivamente, do conhecimento de alguma criatura.
b) Esses seres visíveis apresentam-se evidentemente como seres movidos, causados, contingentes, limitados em suas perfeições (neles está também a desordem ou mal que entrou na CRIAÇÃO com o pecado..., é preciso filtrar; de todas as formas são bens finitos (por isso mesmo, não podem saciar o homem, só DEUS)) e ordenados em si e entre si; e a função dos argumentos consistirá precisamente em evidenciar que a razão suficiente e adequada destes caracteres não se acha nos mesmos seres, mas unicamente num SER distinto deles, que seja movente não-movido, causa não-causada, necessário, infinitamente perfeito e ordenador supremo e criador (aqui já estão as 5 vias de São Tomás... E note que, com a demonstração, passamos duma noção de DEUS clara, mas confusa, para uma noção clara e distinta, embora por analogia ou semelhança: movente não-movido, causa não-causada, necessário, infinitamente perfeito e ordenador supremo e criador); donde aparecerá que os seres do universo são verdadeiramente efeitos, que a sua existência real está necessariamente conexa com a existência real de outro SER superior, do QUAL dependem.
Logo, da existência real dos seres visíveis do universo podemos legitimamente e deveras necessariamente deduzir com certeza a existência real de um SER superior, CAUSA suprema da QUAL todos dependem, e a QUEM chamamos de DEUS.
OBJEÇÕES:
É comum na Filosofia - e só na Filosofia por ser o grau de conhecimeto humano natural mais elevado, mais elevado que esse, só com a intervenção de DEUS... - surgirem objeções adversárias à tese, que devem ser levantadas para a tese valer. Na Escolástica, todas elas foram levantadas... Aqui, apresento algumas e pulo o assunto, que está completo no livro, para os interessados. O meu objectivo é só mostrar que já foi feita a demonstração da existência de DEUS, foi no século XIII.
- Não foi, como se costuma objectar, o homem quem "criou" DEUS para explicar os fenómenos do universo, mas descobriu DEUS, tal como Newton não criou, mas descobriu a atração como explicação para a queda livre dos corpos. Por dedução se descobre que a única explicação possível da existência dos seres visíveis, se não quisermos ofender a razão, só pode ser DEUS.
- É presunção e fantasia dizer que um dia a Ciência explicará tudo, prescindindo de DEUS. (Essas coisas que também se mastigam hoje, como pastilha elástica, é coisa já antiga...) Mesmo que concordássemos com o orgulho e presunção nossa de dizer tal coisa, quando se diz que um dia a Ciência - que é um dom de DEUS! Até nisso é presunção -, explicará tudo, o que os alhos têm a ver com os bugalhos? Poder explicar tudo, suponhamos a presunção, não significa nem se conclui daí que se pode prescindir de DEUS. Mas (e mesmo assim) a Ciência experimental não pode nem poderá nunca explicar tudo, pois os fenómenos naturais, mesmo percebidos em toda a compreensão, sempre estarão dependentes duma causa primeira que não é nem pode ser objecto dessas ciências, pertence à realidade invisível, longe dos aparelhos e cálculos matemáticos (estes, só se aplicam ao universo visível).
A necessidade da existência de DEUS não é uma hipótese que permite dar ao universo uma explicação provisória, em falta de outra melhor (presunção humana voltada para os ídolos), mas a razão vê positivamente que é a única explicação suficiente possível.
O progresso científico, doe a quem doer, vai mostrando cada vez mais a necessidade de DEUS...
Continuação de uma boa semana e até amanhã, se DEUS quiser!